Nossa História

“Em certo ponto do Rio São Francisco, próximo a Pirapora, em Minas Gerais, fala-se com as mãos, anota-se com os olhos e vive-se na ponta dos dedos. Vive-se também no tempo do rio, fala-se no tempo do olhar; e canta-se, muito, porque música é a linguagem dos bordados da família Diniz Dumont”.   (Patrícia Rebello)

Bordado feito pelo grupo Matizes Dumont, ilustrando sua cidade natal, Pirapora-MG

       O GRUPO MATIZES DUMONT é formado por integrantes de uma família de Pirapora, Minas Gerais, que se dedica há mais de trinta anos às artes visuais e gráficas e ao desenvolvimento humano. Usam o bordado espontâneo, feito a mão, como linguagem artística e instrumento de transformação social e cultural.

        Com origem no bordado mineiro clássico, essa família de artistas criou novas possibilidades, deu novos sentidos a esse milenar ofício. O “bordado livre e espontâneo”, como elas o vivem, rompe com os padrões da técnica original. São misturas de matizes, tecidos e tessituras, traçados que se combinam em uma arte visual com caraterísticas próprias, sem formas nem padrões pré-concebidos. Inspirada na natureza e na diversidade da cultura brasileira, criam telas, arte, de profunda delicadeza.

 

 

" Nós somos ávidos de beleza: A gente gosta de ver beleza em tudo. A gente caça ela. Nós somos caçadores. Então, a gente caça a beleza nas pessoas, Caça beleza na natureza, Caça beleza na criação.”

(Ailton KrenaK)

        O grupo é formado pela mãe, Antônia Zulma Diniz Dumont, o filho Demóstenes, as filhas Ângela, Marilu, Martha e Sávia. Linhas, sedas e linhos; cores, amores e partilhas, uma mãe, quatro filhas, um filho.

Família Dumont: Demóstenes, Antônia, Sávia, Marilu, Martha e Ângela


Antônia Zulma Diniz Dumont         

       Nossos sonhos de criar e fazer arte com liberdade brotaram cedo como o dia, envoltos em meadas e novelos coloridos de mamãe e nos “almanaques” de papai. Brinquedos feitos com sementes completaram nossos folguedos e desafios na infância.

        Assim fizemos as primeiras leituras, ouvindo curiosos os causos contados por papai e observando atentos os barrados dos vestidos e as histórias bordadas por mamãe, dias e noites adentro. Desde cedo aprendemos a construir nossas primeiras formas com agulha e linha brincando e observando a mãe artista, que nos instigou o olhar e a escutar com sensibilidade, e isso nos permitiu conviver de um jeito especial entre nós, entre rios, com a natureza e com o outro.

       

Obra: Mãe e Filha                                                              Fazenda Mangueira

        Mais adiante, descobrimos que o bordar poderia ir além do universo dos enxovais das noivas e meninos que chegavam. Criamos as primeiras obras bordadas para enfeitar os nossos quartos em conjunto com os traços contemporâneos do irmão Demóstenes, graduado em artes plásticas. E assim começou! Apoiados por uma intimidade diferenciada com as águas do rio São Francisco e formas do cerrado bordamos nossas almas de criança.

Detalhe da obra Pacha Mama

 

        Descobrimos que o bordado poderia ir “além dos limites do bastidor”, o que nos inspira a ler as entrelinhas da vida com leveza, intensidade, alegria e solidariedade, cientes do efêmero de tudo que vem e passa.

        Neste movimento de expandir e criar acrescentamos outras características ao bordado, que hoje se atreve, arrisca de forma lúdica. Das peças utilitárias partiu com ousadia e inovação para as primeiras ilustrações de livros e em forma de telas para ocupar o espaço das artes visuais.

Documentário de Kiko Goifman produzido com o apoio do Edital de Apoio à Produção de Documentários Etnográficos sobre o Patrimônio Cultural Imaterial (Etnodoc). O filme retrata a vida e a obra da família de bordadeiras Diniz Dumont, integrantes do Grupo “Matizes Dumont” que é hoje uma referência na região de Pirapora, norte de Minas Gerais, na beira do Rio São Francisco.




            O Grupo Matizes Dumont abriu, no cotidiano, novos espaços para o bordado como expressão e linguagem.  

        A arte em tecidos, linhas e letras do bordado também conquistou galerias e grandes exposições nacionais e internacionais ao longo dos últimos trinta anos. Foram centenas de obras produzidas que foram expostas na Bienal de Arte de Kaunas 2007 - Lituânia, exposições na Embaixada do Brasil na Itália e na França, até exposições mais recentes no Brasil, como Maria de Todos Nós, no Paço Imperial-RJ. E "Coração em Paz", uma releitura dos estudos que Candido Portinari fez para os painéis Guerra e Paz que aconteceu em Belo Horizonte (Inauguração do Cine Theatro Brasil), Rio de Janeiro (Caixa Cultural) e Brasília (Museu Nacional do Conjunto Cultural da Repúbliaca).          

Obra: Árvore de Rio

Obra: Ciranda

Obra: Lavadeiras

        Algumas telas foram criadas especialmente para ilustrar a palavra de grandes autores e editoras brasileiras. O bordado também surgiu como linguagem gráfica e está disponível em forma de livros. O grupo ilustrou obras de grandes nomes como Jorge Amado, Ziraldo, Manoel de Barros, Thiago de Mello, Rubem Alves, Carlos Rodrigues Brandão, Tetê Catalão, Marina Colasanti, Luciana Diniz e também livros de duas de suas próprias integrantes, Ângela e Sávia Dumont.

Livros ilustrados pelo Grupo Matizes Dumont

 

        Ganhou duas vezes o maior prêmio da literatura brasileira, o Jabuti de Ilustração, com ”Exercício de Ser Criança ” e “A Menina , a Gaiola e a Bicicleta - Céu de Passarinho ”. Recebeu ainda premiações importantes como o Selo Altamente Recomendável e outros.

Livro: Exercícios de se criança, Manoel de Barros

Livro: Amazonas, Thiago de Mello

Livro: A menina, a gaiola e a bicicleta, Rubem Alves


 

        As cores, o brilho e a alegria dos bordados do Grupo Matizes Dumont saíram do barrado dos vestidos da infância e foram encantar na vida.

        Na música ilustrou, com cenas do dia a dia, a musicalidade dos baianos Dorival Caymmi, com a exposição e publicação do livro Imagem do Som

Livro: A imagem do Som, Dorival Caymmi

Obra: Mandala Orixás


 

        Para Maria Bethânia, ilustrou em 2007, o álbum "Pirata” que recebeu o prêmio TIM 2007 de melhor projeto visual. Em 2015, participou da exposição comemorativa dos 50 anos de carreira de Maria Bethânia; “Maria de Todos nós” no Paço Imperial, Rio de Janeiro que aconteceu de julho a setembro de 2015. No mesmo ano participou do cenário do show comemorativo dos 50 anos de sua carreira, “Abraçar e Agradecer" Tour 50 anos.

Capa do álbum 'Pirata' de Maria Bethania

Exposição 'Maria de Todos Nós' no Paço Imperial - RJ

Abraçar e Agradecer, show comemorativo dos 50 anos de carreira da Maria Bethania

Abraçar e Agradecer, show comemorativo dos 50 anos de carreira da Maria Bethania

 


      O grupo fundou em 2004 o instituo Cultural Antônia Dumont - ICAD que se dedica a promover e difundir a cultura popular brasileira usando a arte como instrumento para o desenvolvimento humano de pessoas em situação de vulnerabilidade.

 

ICAD promovendo cultura

        São fortemente engajados em projetos de cunho social e ambiental. Com diversos projetos na área de promoção da saúde e ambientes saudáveis, educação ambiental, inclusão social, cultura e processos de grupo, onde o bordado é linguagem poético-visual.


      Realizam também oficinas de bordado para pessoas que buscam uma experiência que inclua o prazer e a alegria de criar, conviver. Encontros para expressar o fazer criativo e (A) Bordar conteúdos da memória onde há espaço para a aprendizagem e transformação.

        A terceira geração de jovens bordadeiras já trabalha nas oficinas, e a quarta geração de meninas já se arrisca com novelos e agulhas. Nesta família, os adultos bordam brincando e as crianças brincam de bordar.

Terceira geração de bordadeiras: Luana, Maria Helena, Tainah, Paula; Crianças: Maria Eduarda e Clara